Ana Angélica Costa
Paisagens-Temporais
Paisagens-Temporais
Em cartaz de 2/mar a
Paisagens. Queria ser poeta de imagens. Difícil escrever/verbalizar sobre as Paisagens-Temporais. Feitas em um processo em que a imagem se faz quase que completamente de forma autônoma, as paisagens adentram a câmera fotográfica sem refração, sem a mediação de lentes objetivas; me sinto como uma orquestradora de acasos. Paisagens desobjetivas.
Temporais I. Captam um longo fragmento de tempo: duram de 5 segundos a alguns minutos, podendo chegar até 12 horas de impressão da paisagem no filme ou papel fotográfico.
Temporais II. São paisagens estranhas, captam momentos e situações de luz inicialmente conflitantes em uma única imagem. Algo se move, se desloca. Revelam a agitação da paisagem humanizada e poetizada pela câmera desobjetiva.
Na busca de tentar dar ao vento e às mudanças no tempo uma forma apta à foto, encontrei na fotografia feita com câmeras artesanais, sem a mediação de lentes objetivas, uma maneira de registrar os acontecimentos em paisagem. Objetivas em seu duplo sentido: as lentes em câmeras fotográficas convencionais são chamadas de lentes objetivas; e também no sentido de objetivar a cena, transformando-a em objeto.
O tempo dessas paisagens se aproxima menos de Cronos e mais de Kairós, um tempo que diz respeito à qualidade do tempo vivido, que não pode mensurado, uma vez que as imagens se sobrepõem e cada uma delas é composta por uma multiplicidade de pequenos tempos. “São muitos minutos em um só minuto”, como diria Clarice Lispector. Paisagens sobre o tempo da ocasião, um tempo divino. Tempo vivo, inventivo, contínuo, que traz os acasos, os temporais, às imagens-paisagens.
Ana Angélica Costa
FICHA TÉCNICA:
Curadoria: Fabiana Bruno
Programação visual: Camila Almeida
Produção: Preta Pinho, Sophia Samai e Débora Bruno
Molduras: Rodrigo Marques
Impressões fotográficas: We Print!
Esta exposição faz parte do Circuito de Ateliês Abertos do Ateliê-Casa
Ana Angélica Costa
Artista visual, pesquisadora e produtora cultural, mestre pelo PPGArtes da UERJ, especialista em História da Arte e da Arquitetura no Brasil pela PUC-Rio, e graduada em Educação Artística com habilitação em História da Arte pela UERJ.
Possui MBA em Gestão e Produção Cultural pela FGV. Uma das fundadoras do Projeto Subsolo, produtora de arte com foco em fotografia e arte contemporânea que atuou no Rio de 2005 a 2015. Possui ampla pesquisa em fotografias feitas com câmeras pinhole e experimentos com câmeras obscuras.
Em 2013 desenvolveu a caixa Continente: Pinhole, e foi contemplada com o XIII Prêmio Marc Ferrez de Fotografia Funarte e com o Edital de Fomento de Artes Visuais da Prefeitura do Rio de Janeiro para desenvolver a publicação Possibilidades da câmera obscura, lançada em 2015. No mesmo ano mudou-se para Campinas e fundou a Câmera Lúcida (www.cameralucida.com.br).
Em 2017 foi responsável pela Curadoria do eixo Imagem Mágica dentro do Festival Hercule Florence de Fotografia. Tem obras na Coleção Joaquim Paiva, em comodato com o MAM-Rio e já participou de diversas exposições coletivas e individuais.